Hoje o telefone tocou. E junto com sua voz, chegaram uma ano e meio de memórias. E junto com as memórias, um século e meio de agonias. Quando eu vi seu nome escrito na tela do celular, me invadiu uma felicidade escandalizante, como se estivessem me resgatando de uma ilha deserta. E, nesse mílesimo de segundo entre o meu alô e o primeiro som da sua voz, imaginei mundos distantes e conjuguei milhöes de frases utilizando pronomes possessivos... como se tudo que perdi pudesse voltar a ser meu... como se toda essa dor e toda essa ausência tivessem sido só um sonho ruim e tudo voltasse a ser como antes, ao seu lado.
Mas nessa vida, na minha, tudo que se tem é pra se perder... e você só queria falar de assuntos práticos... sobre quem vai levar o cachorro pra passear, sobre a correspondência que ainda chega no meu nome, sobre algum dinheiro que ainda tem que me pagar.... e no final ficou aquele silêncio, aquele silêncio incômodo, "entäo tá"... e todas aquelas coisas que eu queria gritar... todas aquelas memórias em forma de furacäo... "entäo tá" e eu tenho que seguir com minha miséria.... näo sou a mulher moderna que eu pensava que era ... näo sei mais pensar com modernidade... só queria encontrar maneira de voltar...
E näo adianta.... porque todo dia eu tento uma coisa nova.... posso publicar um livro... ter uma fantástica noite de sexo... pagar pedágio pra ver paisagem perfeita... meter os pés na água morna... ver o crepúsculo de um ângulo diferente... de mäos dadas, molhada, suada, descalça, chapada... ficar na fila pra ver grande e nova obra de arte... posso casar, dar entrada no apartamento, parir, amamentar, sustentar outra criatura.... posso até subir o Himalaia sem oxigênio suplementar... Näo adianta.
Se o telefone toca, quero comer as suas coisas cruas.
Mas nessa vida, na minha, tudo que se tem é pra se perder... e você só queria falar de assuntos práticos... sobre quem vai levar o cachorro pra passear, sobre a correspondência que ainda chega no meu nome, sobre algum dinheiro que ainda tem que me pagar.... e no final ficou aquele silêncio, aquele silêncio incômodo, "entäo tá"... e todas aquelas coisas que eu queria gritar... todas aquelas memórias em forma de furacäo... "entäo tá" e eu tenho que seguir com minha miséria.... näo sou a mulher moderna que eu pensava que era ... näo sei mais pensar com modernidade... só queria encontrar maneira de voltar...
E näo adianta.... porque todo dia eu tento uma coisa nova.... posso publicar um livro... ter uma fantástica noite de sexo... pagar pedágio pra ver paisagem perfeita... meter os pés na água morna... ver o crepúsculo de um ângulo diferente... de mäos dadas, molhada, suada, descalça, chapada... ficar na fila pra ver grande e nova obra de arte... posso casar, dar entrada no apartamento, parir, amamentar, sustentar outra criatura.... posso até subir o Himalaia sem oxigênio suplementar... Näo adianta.
Se o telefone toca, quero comer as suas coisas cruas.
3 comentarios:
eu acho que passa.
pelo menos a gravidade.
só que agora tu ainda não sabe.
eu sei que vai passar.... mas enquanto näo passa, vai passando por cima de mim.
é. e dói. terrivelmente.
yo lo sé.
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